Por Pedro Bentz, head de Finanças Sustentáveis da Report
Os investimentos baseados em critérios ESG têm sido amplamente promovidos como uma abordagem necessária para alinhar objetivos financeiros a resultados positivos para a sociedade e o meio ambiente. No entanto, nos últimos anos, uma forte reação tem emergido frente a essa prática, tanto de setores mais conservadores da sociedade, devido à politização do tema, como de setores mais progressistas, com críticos apontando inconsistências e greenwashing. Apesar disso, os princípios fundamentais da integração ESG continuam relevantes, especialmente em mercados como o brasileiro, onde as desigualdades sociais e os desafios ambientais são profundos e urgentes.
O atual contexto exige uma abordagem crítica e renovada, focando em métricas robustas, transparência e alinhamento entre as práticas empresariais e as demandas dos investidores. No Brasil, regulamentações como as novas regras da ANBIMA para fundos IS (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais), resolução nº 175 e 193 da CVM oferecem uma base promissora, mas é necessário ir além.
Iniciativas relevantes e adaptação à realidade brasileira
- Aprofundando a integração ESG
Embora a integração de fatores ESG às decisões financeiras tenha se consolidado globalmente, é preciso evitar que essa prática se limite a iniciativas superficiais. Diretrizes como as do IFRS e estratégias como os filtros best-in-class e best-in-progress ganham relevância em mercados como o Brasil, onde a adesão a padrões sólidos pode aumentar a confiança no impacto real dos ativos e produtos. É essencial focar na medição e no relato assertivo dos atributos de sustentabilidade dos produtos financeiros para evitar críticas de greenwashing. - Engajamento corporativo
A força do engajamento corporativo está em sua capacidade de influência para que mudanças reais aconteçam, desde a adoção de metas ambiciosas de descarbonização até melhorias em práticas de governança. No entanto, essas iniciativas devem ir além de compromissos simbólicos, promovendo transparência e monitoramento contínuo. No Brasil, onde as desigualdades sociais e as questões climáticas são urgentes, essa dinâmica se faz de grande importância para estimular melhores práticas no setor privado. - Apoio a investimentos temáticos relevantes
Investimentos temáticos, como atividades que preservam ecossistemas e habitação social, continuam sendo um caminho promissor para o ESG, mas precisam demonstrar resultados tangíveis. No Brasil, o mercado de dívida rotulada baseada em uso de recursos confere oportunidades, no entanto, o estabelecimento de métricas claras e um relato transparente e assertivo sobre os atributos socioambientais dos projetos a serem financiados se faz imprescindível para a credibilidade desse mercado.
Desafios e oportunidades no cenário ESG
- Superando a falta de padronização
A diversidade de métricas e metodologias relacionadas ao relato sobre temas ESG contribui para o ceticismo crescente. A harmonização de padrões globais, como GRI, TCFD e SASB, às realidades brasileiras pode estabelecer bases mais sólidas para medir o impacto real e reconquistar a confiança dos stakeholders. Nesse sentido, a consolidação recente promovida pelo IFRS, com os padrões S1 e S2, responde a esse perene gargalo. - Combatendo o greenwashing com transparência
O greenwashing é um ponto de crítica perene e onipresente, minando a confiança da sociedade sobre a capacidade do setor privado de lidar com desafios socioambientais. Regulamentações mais robustas e o uso de auditorias independentes são indispensáveis para demonstrar autenticidade e eficácia das ações relacionadas às estratégias de sustentabilidade das organizações no Brasil. - Mudança cultural para ações concretas
O backlash global contra a adoção de critérios ESG também expôs a desconexão entre discursos corporativos e práticas reais. No Brasil, é fundamental investir na capacitação de lideranças e no fortalecimento de uma cultura organizacional que priorize ações mensuráveis e viáveis, em vez de promessas vazias.
O recente movimento contra a adoção de critérios ESG no processo decisório reforça a necessidade de um enfoque mais robusto e transparente na adoção desses critérios. No Brasil, o desafio é aproveitar as regulamentações existentes e adaptar as boas práticas globais a uma realidade complexa, garantindo que os compromissos de sustentabilidade não sejam apenas promessas, mas parte de uma transformação estrutural e mensurável no mercado financeiro.
Para que essa pauta continue relevante, é preciso demonstrar resultados claros, abordando questões reais como mudanças climáticas e desigualdades sociais, enquanto responde às críticas com métricas sólidas e ações tangíveis. Assim, o Brasil pode ser protagonista na construção de um setor privado que opera em harmonia com os limites planetários.