Por Guto Lobato
A tônica é conhecimento – com doses crescentes de regulamentação e revisões técnicas de normas ESG. A Conferência 2025 da IFRS Foundation, organizada em Londres, Reino Unido, trouxe atualizações sobre os trabalhos da entidade responsável pelos principais padrões globais de divulgação financeira, com destaque para a revisão de normas, consultas públicas sobre standards novos a serem lançados e os trabalhos em educação e conhecimento para acelerar a transição nos mercados.
Na edição deste ano, a convivência entre os trabalhos do board voltado às práticas de divulgação financeira (IASB) e os do ISSB, board de sustentabilidade da IFRS Foundation, se refletiu na programação, com sessões dedicadas a temas como os padrões contábeis IFRS e atualizaçõe relacionadas às Normas IFRS S1 e S2, divulgadas em 2023 e já em processo de regulamentação em 36 países. Cabe lembrar que o Brasil é um deles e está entre os pioneiros, com a Resolução 193 da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) lançada ainda em 2023.
“As Normas IFRS S1 e S2 do ISSB estão trazendo mais clareza sobre riscos e oportunidades em cadeias de valor. Estamos fornecendo recursos e material educacional para apoiar investidores, instituições financeiras, seguradoras e empresas para melhorar o fluxo de informação sobre sustentabilidade para o mercado”, afirmou Emmanuel Faber, líder do ISSB.
Com diversas empresas testando a aplicação das Normas S1 e S2 e os deadlines de regulamentação se aproximando, Faber destacou em sua fala inicial da Conferência alguns dos próximos passos mais importantes: entre eles, estão o combate ao greenwashing, a interoperabilidade e a resolução do ecossistema fragmentado de padrões ESG.
Na programação, temas de destaque na área de sustentabilidade foram o lançamento de um guia orientativo sobre transição climática; a consulta pública para melhoria e revisão técnica da Norma S2; atualizações sobre o trabalho de revisão das Normas SASB; e a evolução da agenda regulatória global sobre as Normas S1 e S2. Confira a seguir um resumo dos debates por dia.
DIA 1: Materiais educacionais e suporte aos mercados são destaque
No primeiro dia de programação, uma série de salas simultâneas abordaram agendas como a aplicação dos padrões IFRS, os diferenciais da IFRS 19 e, com foco em sustentabilidade, duas mesas que prestaram contas sobre o plano de trabalho do ISSB de 2024 para 2025 e as ações de suporte à implantação das Normas S1 e S2. Também houve uma sessão dedicada à interoperabilidade entre as normas de sustentabilidade da IFRS (S1 e S2) e os padrões europeus (ESRS) – um dos temas-chave da agenda regulatória global.
David Bolderston, diretor técnico do ISSB, destacou em sua apresentação o apoio da entidade às jurisdições (os países) que estão na jornada de adotar de forma mandatória ou não o uso das Normas S1 e S2.
A principal ação é o Programa de Implementação Regulatória, que conta com guias e perfis jurisdicionais, um kit de documentos de apoio e e-learnings, um deles lançado neste mês de junho.
“Temos notado uma abordagem faseada de jurisdições, condizente com a velocidade e necessidade de adaptação das empresas e dos mercados”, disse Bolderston, destacando avanços em países como o Brasil – que hoje conta com o Comitê Brasileiro de Pronunciamentos de Sustentabilidade (CBPS), vinculado ao Conselho Federal de Contabilidade, que lançou notas dedicadas aos padrões IFRS – e a Malásia, que conta com um programa que prepara empresas sujeitas à regulamentação de reporte com base na S1 e na S2.
“Mantemos um grupo de trabalho de transição e implementação que capta os principais pontos de dúvida e estuda formas de ampliar conhecimentos sobre as normas, especialmente com foco em como levar às demonstrações financeiras tradicionais, os requerimentos de sustentabilidade solicitados nas Normas IFRS S1 e S2”, afirmou o diretor.
Mark Manning, da equipe de assuntos regulatórios da IFRS, também enfatizou a importância de permitir às empresas se adaptarem, com medidas como ajustes em texto e “reliefs” relativos à Norma S2, focada em clima e ainda hoje bastante desafiadora para as companhias. “O importante é que todos se preparem para comunicar com clareza ao mercado quais fatores são críticos em sustentabilidade para o desempenho e as perspectivas de um negócio.”
Outro tópico importante que apareceu na programação foi a revisão e o incremento dos recursos hoje gerenciados pelo ISSB – que incluem as Normas S1 e S2, o Framework de Relato Integrado e as Normas SASB. Essas últimas, por exemplo, estão em processo de revisão técnica para diversos segmentos da indústria. Além disso, o ISSB segue pesquisando sobre os temas de natureza e capital humano – já anunciados desde 2024 como prováveis assuntos para as futuras normas S3 e S4.
Todas as sessões contaram com momentos de interação e perguntas, feitas tanto presencialmente, no evento em Londres, quanto online, para o público que participou remotamente. Em uma das sessões, as questões abordaram controvérsias – o atraso na adesão às Normas IFRS S1 e S2 pelo Reino Unido, por exemplo – e desafios específicos, como a duplicidade de relatos por empresas controladas e suas holdings em diferentes lugares do planeta.
DIA 2: Apoio ao reporte de transição climática e revisões nas normas S2 e SASB
O segundo dia da Conferência IFRS teve novas rodadas das discussões temáticas em breakout rooms, explorando os projetos do ISSB, atualizações de padrões contábeis e os principais desafios ligados à adesão às Normas S1 e S2 no mundo.
Destaque para o lançamento da IFRS Foundation e da Sustainable Stock Exchanges Initiative (SSE) do documento “Disclosing information about an entity’s climate-related transition, including information about transition plans, in accordance with IFRS S2”. Trata-se de um guia orientativo para organizações que precisam reportar seus planos de transição climática, em linha com a IFRS S2. Divulgado na segunda-feira, ele foi objeto de um workshop técnico no qual se discutiu um dos principais desafios de adoção das novas normas – que trazem requerimentos sobre governança, estratégia, gestão de riscos, métricas e metas associadas ao clima.
Bryan Esterly, diretor técnico do ISSB, destacou a importância desse e de outros recursos lançados – como o material educacional sobre aspectos ligados ao capital social em divulgações sobre clima – dentro do plano de trabalho do board para acelerar a adoção da S1 e da S2 nos mercados. “Nossos stakeholders – investidores, profissionais da área contábil, especialistas – detectaram desafios importantes ligados à Norma S2. Nesse contexto, abrimos a consulta pública sobre ajustes técnicos no texto da norma e lançamos o guidance sobre planos de transição, porque são pontos desafiadores para as empresas na hora de responder às divulgações”, disse, reforçando que o período de consulta aos ajustes feitos na S2 se encerra nesta sexta-feira, 27/6 (saiba mais aqui).
As revisões na S2 têm foco em reduzir os desafios de sua adoção pelas empresas, reduzir custos de adaptação e tornar mais racionais os critérios para tópicos como emissões de escopo 3, emissões financiadas e cálculos relacionados a riscos climáticos e custos de transição.
Em uma rodada de atualizações sobre o plano de trabalho do ISSB, Bryan e Corey Walrod (da equipe técnica do ISSB) trouxeram os próximos passos relacionados aos temas de biodiversidade/capital natural e capital humano, que serão objeto das próximas Normas IFRS-S a serem lançadas, Walrod trouxe uma visão do processo executado, de 2024 para cá, com centenas de consultas e um entendimento de quais prioridades – por setor empresarial ou subtópico (por exemplo, treinamento e talentos em capital humano; ou uso do solo e riscos à biodiversidade, em capital natural) – devem guiar a produção do texto das novas normas. “Analisamos mais de 4 mil disclosures e empresas sobre biodiversidade e capital humano, entre métricas e tópicos narrativos. Na segunda metade de 2025, avaliaremos, no ISSB, a melhor forma de produzir orientações objetivas e úteis para decisões dos investidores sobre esses temas”, disse.
Outro ponto importante está na revisão das Normas SASB. Foram detalhados os trabalhos de revisão desses padrões – que têm versões para 77 indústrias e foram lançados em 2018, – em curso atualmente. No total, os padrões e indicadores de 13 setores (como mineração, carvão, óleo e gás, produtos agrícolas, proteína animal e energia) estão contemplados nesta rodada. “Destacamos que as Normas SASB são um recurso importante a se adotar junto das Normas S1 e S2 e que têm 74% de métricas quantitativas, com média de 13 métricas por setor”, destacou Corey Walrod. “São dados comprovadamente úteis para investidores e mercados que trazem referenciais de performance de sustentabilidade para empresas com uma lente específica e setorial.”
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