Em um dos eventos paralelos que ocorreram na COP 30 na Casa do Seguro, iniciativa da CNseg, ANBIMA e Febraban, o Fórum de Finanças Sustentáveis reuniu representantes do governo, setor financeiro, seguradoras e organismos multilaterais para debater estratégias para o financiamento da transição climática e o fortalecimento do papel do setor financeiro na construção de uma economia de baixo carbono.
Logo na abertura, a discussão sobre seguro rural foi usada como exemplo de como os efeitos da mudança do clima já pressionam o agronegócio e o planejamento de safra. Foi mencionado que está em desenvolvimento um desenho de seguro rural, com foco em cobrir melhor os riscos climáticos aos quais o setor do agronegócio está exposto e que tendem a se intensificar, reconhecendo o seguro como instrumento central de adaptação, e não apenas de proteção financeira tradicional.
Além disso, representantes do governo apresentaram um conjunto de instrumentos recentes em finanças sustentáveis, como as emissões de títulos soberanos verdes, a Taxonomia Sustentável Brasileira, o Eco Invest e a criação da Secretaria Extraordinária do Mercado de Carbono, demonstrando que o Brasil tem avançado de forma significativa na construção de uma infraestrutura financeira mais robusta para acompanhar a transição, tanto do lado regulatório quanto do lado da mobilização de capital privado.
Outro tema do debate foi a formação de uma coalizão aberta de mercado de carbono entre Brasil, China e União Europeia, que foi mencionado como relevante por fortalecer o diálogo multilateral diante do cenário geopolítico atual. E, além do fortalecimento do multilateralismo, o mercado de carbono brasileiro demonstra a capacidade e oportunidade do Brasil em dialogar com outros países em pé de igualdade, considerando sistemas de monitoramento, relato e verificação, contabilidade de carbono em nível de produto e mecanismos de ajustes de fronteira, como o CBAM.
Nas discussões sobre o Plano de Transformação Ecológica e como o setor financeiro tem contribuído, o foco foi reconhecer os avanços recentes, mas deixando claro que tem diversas lacunas que precisam ser fechadas para os projetos seguirem bem, sobretudo encontrando soluções em conjunto. Nesse sentido, destacaram que existem projetos de interesse nacional, mas que ainda não avançaram pela necessidade de avançar em seguros e contratos de off-take, assim como capital catalítico para atrair os investidores e financiadores e atender a lógica de risco-retorno desses públicos.
Com isso, o “espírito de mutirão” citado pelo Dan Ioschpe ao longo da COP 30 se encaixa perfeitamente, tendo em vista a necessidade de considerar cada elo da cadeia de valor para o sucesso da agenda, incluindo financiamento, seguro, cadeia produtiva e infraestrutura, de uma forma estruturada e organizada para ser eficiente e destravar a implementação.
Ao abordar os motivos que ainda limitam a atração de capital, lembrou-se que o desenvolvimento socioeconômico brasileiro historicamente não incorporou plenamente a sustentabilidade, apesar do país ter um bônus competitivo em recursos naturais e potencial de descarbonização. Diante disso, foi levantado que o Brasil ainda precisa transformar seu potencial em carteira estruturada de projetos, com governança, modelagem financeira adequada e mecanismos de mitigação de risco. Assim, a COP 30 é vista como um grande chamado para implementação, considerando a lógica de que, se houver bons projetos e capacidade de entrega, os recursos tendem a aparecer.
Já nas discussões sobre florestas e bioeconomia, o foco naturalmente voltou-se para a Amazônia, reforçando a ideia de que os instrumentos financeiros devem reconhecer o valor da floresta em pé, tanto como infraestrutura verde quanto ativo para resiliência e adaptação climática. Com isso, o TFFF foi mencionado como um dos grandes anúncios da COP30 justamente por romper com a lógica tradicional de doação e se estruturar como um mecanismo de investimento.
Em relação às áreas públicas, o representante do Serviço Florestal Brasileiro destacou que existem programas de manejo florestal nas terras públicas federais que podem ser importantes para fornecer a madeira que o mercado demanda, sendo uma das soluções para gerar renda de forma legal, gerando empregos e reduzindo a pressão sobre áreas irregulares. Contudo, permanece a lacuna de seguros específicos para projetos de restauração em larga escala, o que limita a expansão de algumas iniciativas.
Já na esfera privada, a bioeconomia é vista como o caminho para gerar renda a partir da floresta, especialmente por meio de cadeias de óleos, frutos e sementes amazônicas. No entanto, a dúvida que parece permanecer entre os investidores é em relação à existência de garantias adequadas para proteger esses projetos de eventos climáticos ou outras perturbações externas. Sem instrumentos apropriados de seguro e financiamento, o risco continua maior para quem tenta atuar de forma sustentável.
Ao longo das discussões, foram mencionadas iniciativas que buscam ampliar o acesso a garantias para comunidades que vivem na floresta. Apesar dos avanços, o tema não foi central no debate, evidenciando que ainda há um caminho para amadurecer essa agenda e assegurar que os recursos cheguem justamente a quem mantém a floresta em pé.
Tainara Sobrero
consultora de sustentabilidade e estratégia, integrante da comitiva Report na COP30