A COP 30 deve marcar uma inflexão no debate climático: menos centrada na formulação de compromissos globais (mesmo que os países ainda tenham que apresentar suas NDCs) e mais voltada à criação de condições financeiras para viabilizá-los. A mitigação e a adaptação não avançarão sem um redesenho profundo dos mecanismos de financiamento — e, em 2025, o tema se torna o cerne das negociações multilaterais.
Uma das iniciativas mais esperadas para essa edição da COP é o “Roteiro de Baku a Belém”, que busca construir caminhos para a mobilização de US$1,3 trilhão até 2035 em financiamento climático, voltado para os países em desenvolvimento. A ideia é redesenhar a arquitetura financeira global e atrair recursos para a adaptação desses países, que hoje lidam com barreiras significativas de atração de capital privado, endividamento e restrições fiscais.
Entre os obstáculos mais críticos estão a ausência de consenso entre países desenvolvidos e em desenvolvimento e a dificuldade de financiar projetos de longo prazo em energia limpa, agricultura regenerativa, adaptação climática e infraestrutura resiliente. Além disso, os mercados emergentes estão mais expostos a riscos de crédito e volatilidade cambial.
O plano brasileiro
O Brasil tem buscado estruturar uma agenda financeira e regulatória que responda a esse desafio. O Plano de Transformação Ecológica – Novo Brasil, lançado pelo Ministério da Fazenda, constitui o arcabouço mais abrangente já apresentado no país para integrar crescimento econômico, transição climática e inclusão social.
No final de agosto, o governo brasileiro disponibilizou um Painel de Monitoramento do plano, que completou dois anos em 2025 e está organizado em torno de quatro grandes eixos:
- Finanças sustentáveis
- Sustentabilidade ambiental
- Empregos e transição justa
- Inovação tecnológica e reindustrialização verde
Dentro do eixo de finanças, destacam-se instrumentos como o Fundo Clima, o programa Eco Invest Brasil, a emissão de títulos soberanos verdes e a preparação do Sistema Brasileiro de Comércio de Emissões (SBCE). Outra aliada de peso é a Taxonomia Sustentável Brasileira, cujos cadernos técnicos foram recentemente aprovados, estabelecendo critérios para classificar atividades econômicas de acordo com seus impactos socioambientais e climáticos. Os documentos estão em processo de revisão final para publicação em breve, em portugues e inglês. Em seguida, serão trabalhados pelos respectivos órgãos reguladores.
Financiamento climático: escala e barreiras
No campo do financiamento climático, iniciativas como o Eco Invest Brasil, desenvolvido em parceria entre o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e o governo brasileiro, buscam mitigar riscos cambiais e atrair capital privado estrangeiro para projetos de longo prazo — de energia renovável a soluções baseadas na natureza. Entre elas estão mecanismos de blended finance, que combinam recursos públicos, privados e filantrópicos para reduzir riscos de investimento, e que começam a ganhar espaço como instrumentos de escala.
O relatório do CPI/PUC-Rio revelou um salto significativo nos fluxos de financiamento climático internacional para o Brasil entre 2021–2022, com crescimento de 84% em relação ao biênio anterior, atingindo cerca de R$ 26,6 bilhões por ano — uma taxa muito superior ao aumento global, que foi de 28% no mesmo período. O crescimento foi liderado pelo setor de energia limpa, que obteve aumento de 165% nos recursos destinados à geração solar e eólica.
Ainda assim, a assimetria setorial é evidente: a energia responde por 53% dos recursos, enquanto o setor de uso da terra (AFOLU), que representa a maior parcela de emissões nacionais, recebe apenas 11%. Projetos florestais, apesar de estratégicos para o cumprimento das NDCs brasileiras, captam somente 2% do total, embora representem 41% das doações internacionais. Essa lacuna sinaliza tanto a urgência quanto a oportunidade de reequilibrar os fluxos de capital para soluções baseadas na natureza.
O potencial das florestas
Por isso, também é esperado com entusiasmo para a COP 30 o anúncio do Fundo de Florestas Tropicais (TFFF), um novo modelo de financiamento climático que recompensa os países que preservam suas florestas tropicais. A expectativa é de captar US$125 bilhões, em uma operação que independe do mercado de carbono regulado. O fundo faz parte de uma estratégia mais ampla do governo brasileiro que inclui outros pilares como a sociobioeconomia e a biotecnologia.
A Climate Advisers Initiative, por meio de seu relatório Orbitas, aposta que, nos próximos 30 anos, a restauração florestal em larga escala de pastagens degradadas no Brasil pode gerar até US$ 141 bilhões em valor, criando mais de 350.000 empregos em tempo integral anualmente. Ainda de acordo com a iniciativa, “sob as condições certas, as florestas e a biodiversidade podem ser restauradas em quase 60 milhões de hectares (Mha) — uma área do tamanho da França”. E ainda ressalta que “esses resultados estão ao nosso alcance, mas somente se os setores público e privado do Brasil agirem rapidamente”.
Impactos para as empresas
A sétima carta da presidência da COP 30 foi direcionada às empresas e ao setor privado, reconhecendo os avanços significativos na transição, mas destacando a necessidade de acelerar o engajamento por meio da Agenda de Ação Climática, que destaca seis eixos temáticos e trinta objetivos-chave.
“A expectativa da liderança da COP 30 é de que haja uma abordagem mais concreta sobre qual financiamento será necessário para cada tipo de solução climática. A qualidade das NDCs está melhorando e, com isso, direcionando a operação do setor privado em um ambiente mais controlado e seguro”, ressalta Tainara Sobreiro, especialista em finanças sustentáveis no Grupo Report.
Com isso, o foco do governo nas empresas estará apoiado em três pilares: alavancar a inovação, atrair capital para a transição e influenciar o engajamento da cadeia produtiva. Com essas soluções e o avanço do debate na COP, o setor privado passaria a operar em um ambiente em que regulação, finanças e estratégia corporativa estarão cada vez mais interdependentes. O desafio será navegar as incertezas, compreender os novos mecanismos financeiros e transformar riscos climáticos em oportunidades de negócio.
Ao unir visão técnica, experiência em relato e compreensão das dinâmicas financeiras, a Report ajuda organizações a avançar de forma segura em um cenário de maior escrutínio e novas exigências de transparência. Oferecemos estratégias de descarbonização, mapeamento e valoração de riscos e oportunidades, planos de adaptação climática e identificação de oportunidades de financiamento.