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Fluxos de capitais para o desenho de um futuro sustentável:​ princípios de finanças sustentáveis e atores envolvidos

Fluxos de capitais para o desenho de um futuro sustentável:​ princípios de finanças sustentáveis e atores envolvidos

É muito provável que em alguns anos você saberá qual foi a quantidade de emissões de gases de efeito estufa geradas no processo de produção do seu celular até ele chegar à sua mão. Muito provavelmente, uma tabela lhe dirá de onde os minérios foram extraídos e qual distribuição de riqueza foi gerada ao longo de toda cadeia de valor. 

Esse cenário utópico, porém extremamente possível, será impulsionado por fluxos de capitais que buscam contribuir com um futuro menos agressivo ao meio ambiente e mais justo para as pessoas. O campo de conhecimento das finanças que trata deste fluxo de capitais chama-se finanças sustentáveis.

As finanças sustentáveis, portanto, são regulações, normas, produtos financeiros e padrões que buscam alinhar aspectos ambientais, sociais e de governança (ESG) aos objetivos dos agentes de mercado. Em um contexto de acordos internacionais para o combate à crise climática, taxação do carbono na União Europeia e novo foco dado à perspectiva humana em meio à transição energética, as finanças sustentáveis ganharam destaque nos últimos anos.

De forma simplificada, podemos dizer que os principais agentes de mercado que impulsionam essa agenda são o sistema financeiro (investidores, instituições bancárias e gestoras), que alocam os recursos e, de outro lado, as empresas, as quais implementam os projetos, atividades ou produtos. 

Figura 1: Ilustração simplificada dos principais atores envolvidos nas finanças sustentáveis e fluxo de capital entre eles. Fonte: Proposta do autor

Motivações dos atores no ecossistema de finanças sustentáveis

Como primeiro passo para se entender este intrincado ecossistema, é importante conhecer o posicionamentos desses principais atores para entendermos as pressões e influências que são exercidas por (ou entre) eles.

Em 2009, durante a COP15 (Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas) realizada em Copenhague, definiu-se um compromisso de 100 bilhões de dólares anuais até 2020 para ações de mitigação e adaptação climática. Esse acordo foi reforçado no Acordo de Paris em 2015, ficando prorrogado até 2025. Em 2022, na COP27, outro compromisso foi firmado para a constituição de um fundo de perdas e danos direcionado aos países em desenvolvimento.

Investidores

Os investidores são atores que têm capital em excesso e desejam realocá-lo em projetos, atividades ou empresas alinhadas com seus objetivos e valores pessoais. Esses objetivos podem estar vinculados a metas de retorno financeiro, exposição de risco e também a desejos de um futuro sustentável. Como exemplo de tais desejos, podemos citar o desenvolvimento ou implementação de tecnologias menos poluentes, revitalização de biomas e biodiversidade, consolidação de escalas produtivas que possam contribuir para maior distribuição de renda e promover qualidade de vida, entre outros.  Muitas vezes fazem a alocação via participação direta (se tornam sócios) de outras empresas ou por meio de outros agentes que estejam alinhados com seus objetivos e que vão fazer a alocação do capital por eles. Investidores preocupados com o desenvolvimento sustentável e com apetite para alocar recursos desta natureza têm crescido no mundo todo, em especial nos Estados Unidos e Europa. 

Instituições bancárias:

As instituições bancárias, por sua vez, disponibilizam recursos por meio de empréstimos, seja por instrumentos de crédito ou participação da emissão de títulos de dívida. Essas instituições estão cada vez mais atentas aos fatores sociais, ambientais e climáticos que podem limitar ou expandir a capacidade de geração de caixa das empresas. 

Tais fatores podem ser exemplificados como, por exemplo, a possibilidade de uso de trabalho escravo na cadeia de valor, riscos de compliance ambiental, vulnerabilidade à precificação ou taxação de carbono. Do mesmo modo, estão atentos às oportunidades de contribuições positivas via mercados de carbono, green commodities e bioeconomia. Para as instituições financeiras, uma das maiores preocupações é a exposição de sua carteira a esses riscos e oportunidades.

Gestoras de recursos:

As gestoras de recursos acessam capital dos investidores ou instituições bancárias e aplicam direta ou indiretamente (via fundos de investimento, fundos de fundos e fundos de ações) em empresas, empreendedores ou projetos. Estes atores desempenham um papel crucial na promoção da nova economia pois, muitas vezes, são os atores mais próximos da aplicação final do recurso. Alguns exemplos notáveis incluem a BlackRock, que está comprometida em investir em empresas com práticas sustentáveis, realizando uma carta anual posicionando-se em relação ao tema. No Brasil,
o Itaú Asset Management, a JGP Gestão de Recursos e o BTG Pactual são exemplos de gestoras que possuem produtos ou que incorporam aspectos ESG em sua tomada de decisão. A Vox Capital, por outro lado, é um exemplo de gestora de impacto, investindo em negócios sociais que geram impacto positivo em comunidades de baixa renda. 

Empresas e empreendedores:

No outro extremo, as empresas acabam sendo a ponta final das ações. Seja pela convicção ou pela pressão, implementaram soluções para se adequar às demandas dos investidores, rígido escrutínio das instituições financeiras e olhar criterioso dos gestores. Enquanto esperam por padrões regulados para reportar suas ações e indicadores ligados ao universo ESG, escolhem frameworks ou padrões sugeridos

O Banco Central do Brasil (BACEN) estabeleceu 6 novas normas no final de 2021 que alteram a Resolução 4327/14, dispondo novas diretrizes para a gestão de riscos sociais, ambientais e climáticos, além do regime informacional da gestão de carteira sob essas perspectivas. 

por instituições de forma independente. Veja no quadro abaixo os tipos de padrões e frameworks mais comuns.

Tabela 1: Padrões e frameworks utilizados pelas empresas para dar transparência às suas ações de sustentabilidade (ou ESG). Fonte: Proposta do autor

É por meio de padrões e frameworks que as empresas irão dar transparência, por exemplo, aos seus comprometimentos com uma rota de baixo carbono, comprovar suas ações para preservação da biodiversidade ou demonstrar sua relação com funcionários ou comunidades locais. Deste modo, seus processos de governança, gestão de riscos, estratégias e operações devem refletir o posicionamento e ações ESG das empresas por meio de informações quantitativas ou qualitativas. Com isso, seus compromissos devem estar traduzidos em metas. Essas informações serão fundamentais para que investidores, instituições bancárias e os gestores possam fazer suas análises ESG, seja na perspectiva de riscos ou na captura de oportunidades.

Dando passos adiante:

Claramente, essa simplificação é um exercício didático para que possamos introduzir um maior aprofundamento sobre o rico ecossistema de finanças sustentáveis. Diversos outros atores desempenham um papel relevante, como por exemplo os reguladores (CVM, Banco Central, Susep), consultorias, certificadoras, organizações não-governamentais, academia, seguradoras, entidades de classe e, claro, o próprio consumidor. Além disso, as novas tecnologias executam um papel fundamental para a coleta, organização e interpretação das informações que suportam as tomadas de decisão. Ademais, contextos políticos estão sendo afetados pelos posicionamentos ESG. 

Deste modo, esperamos que este pequeno artigo tenha ajudado o leitor com definições iniciais no campo das finanças sustentáveis e estimulado a busca de novas informações e experiências.

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