Sustentabilidade e ESG

A comunicação em sustentabilidade é essencialmente conectada aos stakeholders

É crescente o movimento em que as empresas passam a considerar os interesses de toda a sociedade, para além dos próprios. Diante do capitalismo de stakeholders, o profissional de comunicação ganha protagonismo; entenda Para desenvolver o assunto de que vamos tratar neste artigo, vamos relembrar três casos. No primeiro, o Greenpeace divulga um vídeo com críticas a uma gigante do setor alimentício por comprar óleo de palma de companhias predatórias da floresta tropical – ilustradas por imagens de um orangotango com dedos ensanguentados. Ao invés de enfrentar a situação, a marca criticada opta pela censura ao vídeo. O conteúdo, é claro, viraliza. No segundo caso, uma varejista internacional de grande porte no mundo da moda publica a imagem, em seu site, de um menino negro usando um moletom no qual se pode ler: “coolest monkey in the jungle” (ou “o macaco mais legal da floresta”). A imagem, naturalmente, gera uma onda de críticas online. Já no terceiro, o presidente de uma petrolífera afirma, durante uma visita a moradores da Costa do Golfo em meio ao pior vazamento de óleo da história dos EUA, que gostaria de retomar sua vida. A fala passa a estampar manchetes ao redor do mundo e revela um porta-voz, no mínimo, despreparado – razão pela qual é destituído do cargo. Nos três exemplos, equipes completas de profissionais qualificados – e com olhar apurado para crises – atuaram na concepção, aprovação e execução da estratégia em comunicação. A pergunta que, então, é: ninguém havia notado nada errado? A chave para a resposta está no pensamento de Sustentabilidade e na relação com o que se convencionou chamar de “capitalismo de stakeholders”, do qual falaremos melhor a seguir.   Conceito do capitalismo de stakeholders – e o papel dos profissionais de comunicação O termo “capitalismo de stakeholders” foi cunhado pelo economista Klaus Martin Schwab, fundador do Fórum Econômico Mundial, para falar sobre o cenário em que as empresas não consideram somente seus próprios interesses, mas os de toda a sociedade. As organizações levam em conta, por exemplo, aspectos ambientais, culturais, políticos e econômicos. A Comunicação desempenha um papel crucial se pensarmos que não é suficiente informar diferentes públicos; é preciso, além disso, envolve-los, incorporando seus pontos de vista. O impacto para os comunicadores tem se refletido no aumento da complexidade de quem trabalha com Conteúdo, Estratégia, PR, Digital e outras frentes. Para uma Comunicação baseada na Sustentabilidade, dois aspectos são essenciais: a existência de um diálogo constante entre stakeholders, por meio de diferentes canais (o que deve acontecer diariamente por meio de redes sociais, de discussões com representantes da Academia, das comunidades, consumidores e especialistas). Já o segundo aspecto é a transparência, exercitada com mensagens baseadas em dados concretos, que estabeleçam uma relação de confiança com a sociedade.  

Tudo sobre o ISE B3: Indicador de Sustentabilidade para Investidores

Entenda o ISE B3: Indicador de Sustentabilidade para Investidores Conscientes Entenda o ISE B3: Indicador de Sustentabilidade para Investidores Conscientes O Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE), criado pela Bolsa de Valores do Brasil (B3) em 2005, é um indicador fundamental para investidores interessados em acompanhar empresas com boas práticas em sustentabilidade. Em termos simples, o ISE B3, como é popularmente conhecido, tem a função de mensurar de forma tangível o desempenho médio dos preços de ativos das empresas comprometidas com a sustentabilidade. Para participarem do processo, as organizações devem primeiramente estar entre as 200 empresas com os ativos mais líquidos, ou seja, com maior facilidade de conversão em dinheiro devido à velocidade de compra e venda. Depois disso, é feita uma avaliação rigorosa de critérios, momento no qual o ISE identifica os nomes que são destaque em eficiência econômica, equilíbrio ambiental, justiça social e governança corporativa.  Processo seletivo à carteira ISE B3 Modalidades de Participação Existem duas modalidades de participação: oficial ou simulada. Para a categoria oficial, além de ser convidada, a empresa deve provar o cumprimento dos requisitos adicionais detalhados nos documentos de Diretrizes (com destaque para o tópico 1.6 na página 4).  Já a categoria simulada serve como um preparatório: qualquer empresa pode participar, independentemente de convite, e seu desempenho pode servir como um direcionador de benchmarking interno para boas práticas de sustentabilidade. Questionário ISE B3 O atual questionário, que passou por uma reformulação em 2021, foi alinhado com o Sustainability Accounting Standards Board (SASB) e a Global Reporting Initiative (GRI), e possui 5 grandes dimensões a serem avaliadas: Capital Humano Governança Corporativa e Alta Gestão Capital Social Modelo de Negócios e Inovação Meio Ambiente A Mudança do Clima é avaliada pela nota obtida com o questionário do Carbon Disclosure Project (CDP) – Climate Change, que possui uma estrutura robusta para diagnosticar o compromisso das empresas com o tema. A configuração do questionário varia de acordo com o setor da empresa participante. Alguns temas e tópicos são gerais, enquanto outros são específicos para o setor. As perguntas seguem a hierarquia de dimensão, temas e tópicos, como ilustrado na imagem abaixo, e são divididos em PDFs disponíveis no site do ISE B3. ↓Dimensão ↓ ↓Temas ↓ Tópicos Avaliação quantitativa x Avaliação qualitativa A avaliação quantitativa nada mais é que a fase de respostas. Neste momento, as empresas devem responder a perguntas de múltipla escolha. Apesar de variar a cada ano, o número de perguntas no questionário de seleção da carteira geralmente fica entre 80 e 100, destacando a importância de um preparo prévio, envolvendo documentação, alinhamento interno e tempo e equipe dedicada para o tema.  Posteriormente, como parte da metodologia, as empresas que atendem aos requisitos de participação e concorrem na categoria oficial são convidadas a apresentar evidências de 5 assinalamentos de cada uma das 5 dimensões. Ou seja, serão requisitadas, aleatoriamente, comprovações das respostas dadas na fase anterior. Essa etapa é chamada de avaliação qualitativa, pois verifica a qualidade das evidências apresentadas. Para garantir a isonomia do processo, a fase de auditoria é acompanhada pela KPMG e as evidências solicitadas são sorteadas no próprio sistema. É permitido enviar até 5 documentos para cada assinalamento sorteado marcado. Essa etapa é ainda mais densa e requer grande preparo para a análise e organização dos documentos. A recomendação do ISE é que, dentre as 5 evidências permitidas, uma delas seja uma espécie de dossiê/carta explicativa que conecte e apresente  os documentos de forma clara e objetiva. Nota final ISE B3 e entrada na carteira A nota final é baseada na avaliação quantitativa e qualitativa do processo. Após a conclusão, são divulgadas prévias da carteira e, finalmente, a carteira oficial. A última carteira, que entrou em vigor no último janeiro, foi anunciada em 02/01/2024 e inclui 78 empresas de 36 setores.  Comparando com as carteiras dos últimos três anos, houve um aumento de 33 empresas em relação a 2022, como se observa no quadro/gráfico abaixo. Carteira Ano em vigor Empresas Setores 17ª 2022 46 27 18ª 2023 66 26 19ª 2024 78 36 A nova carteira contou com empresas como o Grupo de Moda Soma, assessorada pelo Grupo Report e que mostrou uma grande evolução desde 2022. Rebalanceamento da carteira Os rebalanceamentos ocorrem a cada quatro meses e servem para monitorar as empresas em busca de eventos que possam afetar sua reputação e verificar se elas atendem aos requisitos de permanência da metodologia. Portanto, não basta apenas entrar na carteira, é necessário manter um desempenho e compromisso contínuos com a sustentabilidade. Em maio e 2024, haverá um novo rebalanceamento que levará em consideração a nota do CDP 2023, já disponível no site do CDP.  Quando se trata do CDP, é importante mencionar que o calendário do ISE B3 para o ciclo de 2024/2025 foi modificado para incorporar a primeira divulgação da carteira com a nota mais atualizada do CDP no próximo processo. As atividades começarão em março e continuarão até abril de 2025. Ciclo 2024/2025 ISE B3 Entre as principais novidades, está uma audiência pública que será realizada presencialmente e o preenchimento do questionário ocorrerá entre setembro e novembro. A primeira fase de envio de evidências também será em novembro. Caso as evidências sejam parcialmente aceitas, o ISE permite uma réplica, onde os participantes têm a chance de enviar novos documentos. Essa segunda etapa ocorrerá em fevereiro de 2025. Além disso, o ISE anunciou que realizará um processo mais detalhado de revisão do questionário, atualizado anualmente, mas que não será como a grande reestruturação que ocorreu em 2021. Por fim, devo inscrever minha empresa no ISE B3? Participar do índice, seja como categoria oficial ou simulada, deve ser visto como uma jornada. As empresas recebem um diagnóstico que pode e deve orientar a adoção de boas práticas contínuas. Não é possível gerenciar o que não é mensurado. No contexto atual, as agendas de sustentabilidade e ESG tornaram-se uma necessidade, em vez de uma escolha. Isso é corroborado pela demanda dos investidores por transparência e pelas diversas regulações existentes e emergentes, além

Normas de sustentabilidade IFRS: mudanças à vista no relato ESG

Hoje, toda empresa que decide publicar seus resultados sabe que um bom relatório é feito com base em metodologias. Nascidos como peças de divulgação, os documentos evoluíram e se profissionalizaram; viraram material de consulta de investidores e servem para atestar a solidez e a consistência da estratégia de uma organização. Se, no eixo financeiro, isso já é ponto consolidado com a adoção global das normas IFRS, no campo da sustentabilidade os desafios são muitos. Excesso de diretrizes, olhar generalista e uma baixa conexão com os negócios são alguns deles – mas uma transformação é prometida com a publicação, ainda em 2023, das normas de divulgação de sustentabilidade do International Sustainability Standards Board (ISSB), intituladas IFRS S1 e S2. Capitaneadas pela IFRS Foundation, a mesma entidade que lidera globalmente o movimento do Relato Integrado (<IR>), as normas vão completar a caixa de ferramentas do relato ambiental, social e de governança (ESG, na sigla em inglês) (confira aqui um estudo recente do grupo report sobre o tema). Hoje, normas como a da Global Reporting Initiative(GRI) são adotadas por quatro em cada cinco das 250 maiores companhias do planeta. Oferecem pistas para mapear impactos e divulgar, em relatórios, indicadores comuns a diversos setores e tipos de organizações. Falta, porém, a ênfase no aspecto financeiro e no olhar “de fora para dentro” – ou seja, entender como o negócio, além de afetar, é tambémafetado pelos desafios sociais e ambientais de nosso tempo. Quem aderir às novas normas (e elas serão válidas a partir de 1º de janeiro de 2024) vai ser convidado a explicar como o ESG afeta lucro, endividamento, Ebitda, caixa, receita e Capex. Um exemplo prático: uma empresa do agronegócio divulgar suas emissões de gases do efeito estufa é suficiente para um investidor que quer entender a exposição do negócio às mudanças climáticas? Em tese, não: falta, para começo de conversa, entender as despesas com compensação ou as perdas causadas por eventos extremos (secas, chuvas, granizo, geadas etc.). Cifras têm de ser cada vez mais adicionadas aos indicadores ESG. É em resposta a isso que a IFRS S1 (divulgações gerais) e a IFRS S2 (divulgações ligadas ao clima) virão. A conexão entre impacto e resultado nas divulgações corporativas tende a ser positiva para o mercado, que vai se informar sobre sustentabilidade e, assim, tomar melhores decisões de investimento. E também para as empresas: afinal, no longo prazo, elas poderão provar, por meio de seus relatórios, como negócios pautados por premissas ESG são mais funcionais e duradouros.

Normas IFRS S1 e S2 lançadas: os principais tópicos, as novidades – e o que vem por aí

Há algum tempo, fazer a integração real de dois mundos – o da sustentabilidade e o do mercado financeiro – é o grande desafio de reguladores, especialistas e definidores de standards ao redor do mundo. No final de junho, um passo decisivo foi dado nessa direção com o lançamento das Normas IFRS S1 e S2, dedicadas a padrões de divulgação de riscos e oportunidades em sustentabilidade, com foco no mercado de capitais. O lançamento foi durante a IFRS Foundation Conference 2023, realizada em Londres e transmitida para todo o mundo nos dias 26 e 27 de junho. Por meio de nossa unidade de negócios rpt.edu, estivemos na conferência para entender a fundo o que dizem a S1 e a S2. Em resumo, elas prometem dar novo direcionamento à prática de comunicação de resultados, enfatizando o diálogo com os interesses de investidores e a qualificação de discurso e dados sobre riscos e oportunidades atrelados a temas ESG. CIFRAS PARA TODOS OS CAPITAIS Capitaneada globalmente pela IFRS Foundation, por meio do International Sustainability Standards Board (ISSB), a construção das Normas envolveu consultas públicas realizadas em 2022 e a incorporação de vários conceitos e orientações técnicas presentes em documentos da IFRS, incluindo a Estrutura Internacional para Relato Integrado (<IR>) e as Normas SASB. As Normas também recorrem a conceitos e estruturas das diretrizes do Task Force on Climate-Related Financial Disclosures (TCFD) e dialogam com o CDP. A ponte com as Normas da Global Reporting Initiative (GRI), um dos maiores pontos de dúvida, segue em construção. Em sua fala de abertura na Conferência, o chair do ISSB, Emmanuel Faber, foi enfático: as Normas S1 e S2, mais que novas referências para fazer relatórios ou divulgar dados, são um marco na criação de uma linguagem comum no ecossistema global de accounting para assuntos de sustentabilidade, que podem e devem ser traduzidos em termos de negócio e subsidiar decisões de investidores. “A economia não reconhece o valor da natureza para os negócios. Não traduzimos em informação financeira questões com impacto direto sobre elas, como transição populacional, carbono e uso da água. A fronteira que faltava era desenvolver uma linguagem comum e, assim, caminhar para a convergência do relato financeiro e do relato de valor e capitais”, afirmou, fazendo referência à necessidade de dar cifras aos capitais (não apenas o financeiro) acessados e transformados pelos negócios. “Agora, nós atravessamos essa fronteira.” Conhece nossos cursos certificados em Relato Integrado <IR> e GRI? Clique aqui. AS NORMAS EM DETALHE Primeiro bloco de uma série de normas “S” a serem lançadas pela IFRS Foundation – como já ocorre com as Normas IFRS de Relatório Financeiro –, a S1 e a S2 abordam, respectivamente, divulgações sobre sustentabilidade em geral e divulgações relacionadas ao clima. Disponíveis ao público (por enquanto, sem tradução para o português) desde o dia 26 no site da fundação, a S1 e a S2 foram lançadas em oito documentos: as Normas em si, cadernos de orientações setoriais e diretrizes para aplicação, avaliação de efeitos. A S1 é mais abrangente e conceitual: reúne seções de Objetivos, Escopo, Fundamentos Conceituais, Conteúdos Core e Requisitos, entre outras, que destrincham o caminho para empresas desenvolverem seus relatos. Sua construção é diretamente inspirada em conceitos do mercado financeiro: é o caso do de materialidade, que aqui se aproxima das Normas IFRS de Relatório Financeiro e da Estrutura Internacional para Relato Integrado (<IR>), atrelando a definição de temas materiais ao potencial que estes têm de influenciar decisões de stakeholders provedores de capital. A materialidade de impacto, defendida globalmente por normas como as da GRI e focada na percepção de relevância de todos os públicos, é combinável, mas não é o foco. “As Normas IFRS não adotam a dupla materialidade. O foco aqui está no público de investidores”, disse Richard Barker, do ISSB, em uma das sessões da Conferência. As divulgações de sustentabilidade devem ser feitas “in accordance” com as Normas S1 por meio de um processo que inclui o estudo de riscos e oportunidades em sustentabilidade, seguindo instruções do documento, e também a definição de indicadores/dados por meio das Normas SASB – incorporadas, junto com o framework <IR>, pela IFRS Foundation. Além delas, pode-se recorrer a orientações setoriais e outros documentos, como as próprias Normas GRI ou os European Sustainability Reporting Standards. “Torcemos para que os países utilizem as Normas como ponto de partida e adicionem suas necessidades locais. Para nós, isso será um indicativo de sucesso, podemos ser a base e não a única referência”, destacou Sue Lloyd, vice-chair do ISSB, no primeiro dia da Conferência. “A Europa é um exemplo de região que está indo à frente em alguns requisitos. Comunicar nossos standards com adicionais regulatórios locais é o objetivo e finalidade do que fizemos no trabalho do ISSB.” Já as Normas S2 são especificamente dedicadas à divulgação de informação relacionada ao clima. Devem ser adotadas em conjunto com a S1 e estão 100% integradas às diretrizes do TCFD – ou seja, um relatório “in accordance” com as Normas IFRS atenderá aos requisitos daquela Força-Tarefa. O diferencial, segundo Sue Lloyd, é a abordagem da IFRS para um olhar mais focado em cada indústria. “A S2 conta com quatro áreas de conteúdo centrais alinhadas ao TCFD: governança, estratégia, gerenciamento de riscos e métricas e metas. Com elas, queremos que a informação seja apresentada com clareza, alertando investidores sobre riscos e oportunidades climáticos que são materiais para eles, podendo afetar a criação de valor no curto, médio e longo prazos.” A S2 é bastante detalhada: solicita informações de efeitos financeiros de questões ligadas ao clima – riscos físicos e de transição, resiliência climática, análise de cenários futuros etc. – e, embora encoraje abordagens qualitativas, solicita sempre que possível a tradução financeira dos riscos. A parte ligada à mensuração e divulgação de emissões se sintoniza ao GHG Protocol, outra forma de simplificar e criar convergência entre normas e frameworks adotados pelas empresas em sua gestão climática. “Será obrigatório reportar suas emissões de escopo 1, 2 e 3 em linha com os conceitos e métodos do GHG Protocol”, afirmou Caroline Clark-Maxwell, do time técnico que desenvolveu a S2. APLICAÇÃO DAS NORMAS E PERÍODO DE TRANSIÇÃO

Pesquisa ESG: Atuação frente a riscos socioambientais no setor de seguros

Essa é a estreia do Research ESG, uma produção mensal da Frente de Finanças Sustentáveis do Grupo Report, dedicada à análise aprofundada dos principais temas na área de títulos rotulados, riscos e educação ESG (Ambiental, Social e Governança) dentro do escopo financeiro. Iniciamos esta jornada com análise das prática de gestão de riscos ESG em três grandes seguradoras brasileiras. Confira INTRODUÇÃO O contexto global é cada vez mais dominado pela manifestação de riscos, principalmente sociais e ambientais, conforme indicado pelo Fórum Econômico Mundial no Global Risks Report 2024. A sensação de incerteza aumenta a relevância do setor de seguros e seu papel em avaliar, gerenciar e precificar riscos. Em um cenário que urge por estabilidade dos mercados e apresenta atores econômicos mobilizados pelo enfrentamento de riscos emergentes, complexos e desafiadores, as seguradoras ganham notoriedade ao protegerem a manutenção da renda, da vida, da saúde e do patrimônio.  Nesse contexto, destaca-se a importância da atuação das grandes seguradoras na agenda da sustentabilidade. Para aprofundar nossa compreensão desse cenário, a Frente de Finanças Sustentáveis do Grupo Report analisou as práticas de gerenciamento de riscos sociais, ambientais e climáticos de três importantes companhias de seguros brasileiras listadas em bolsa. Com acesso abrangente a informações públicas, foram estudadas a BB Seguridade, vinculada ao Banco do Brasil; a Caixa Seguridade, vinculada à Caixa Econômica; e Porto Seguro, vinculada ao Itaú Unibanco. MATERIALIDADE BB Seguridade Caixa Seguridade Porto Seguro Atração e retenção de talentos Atração, desenvolvimento e retenção de colaboradores Valorização do capital humano Satisfação do cliente e  transparência na comunicação e práticas comerciais Qualidade do produto e do atendimento Experiência do cliente e qualidade de atendimento Gestão de segurança cibernética e privacidade Privacidade e segurança dos dados Privacidade e segurança de dados Integração ASG nos investimentos e produtos Educação financeira, acessibilidade a produtos/serviços e impactos positivos em direitos humanos Oportunidades de impacto positivo e negócios inclusivos Gestão de riscos Estratégia climática Gestão de riscos socioambientais e mudanças climáticas Inovação e tecnologia Inovação e resiliência nos negócios Relação com a sociedade e comunidade Excelência operacional Ética, integridade e compliance Ética, integridade e compliance Desempenho econômico-financeiro Transparência e relacionamento com públicos prioritários Gestão da cadeia de fornecedores e prestadores Desempenho econômico-financeiro Diversidade, inclusão e equidade Diversidade e Direitos Humanos Ao analisar os temas materiais das empresas, encontramos tópicos genéricos como “Desempenho econômico-financeiro”, “Governança corporativa”, “Excelência operacional” e “Oportunidades de impacto positivo e negócios inclusivos”. Essa generalidade pode representar um desafio para a concisão e clareza das estratégias de sustentabilidade e do relatório corporativo, já que são temas que podem ser interpretados de várias maneiras, desviando a narrativa do que realmente importa. Por outro lado, pode-se destacar exemplos mais específicos, como “Estratégia climática” e “Relação com a sociedade e comunidade”. Paralelamente, alguns tópicos permeiam todas as empresas, como “Atração e retenção de talentos”, “Privacidade e segurança de dados” e “Satisfação e transparência no relacionamento com os clientes”, evidenciando a relevância dessas temáticas para o setor. Um fator de atenção é que apenas a Caixa Seguridade e a Porto Seguro têm temas relacionados às mudanças climáticas e à diversidade de forma explícita , questões quase onipresentes nas estratégias de grandes empresas. No caso de mudanças climáticas, a relevância do tema para o contexto do mercado securitário é latente, tendo já motivado a criação de diversos fóruns e iniciativas multi stakeholders para tratar do assunto. Chama a atenção, portanto, o fato de o BB não ter esse tema como material, especialmente ao considerar sua participação de 60,1% no mercado de Seguro Rural, um produto altamente sensível às variações dos padrões climáticos. Embora o BB demonstre boas práticas na gestão de riscos climáticos, é possível inferir que a empresa aborda a questão no contexto mais amplo da gestão de riscos. EXPOSIÇÃO A RISCOS SOCIOAMBIENTAIS Para fins práticos, o enquadramento da análise dividiu-se em  serviços de Life and Health e Non Life. A UNEP-Fi mapeou, através do PSI (Principles for Sustainable Insurance), em dois guias de orientação ao mercado* (Managing environmental, social and governance risks in life & health insurance business e Managing environmental, social and governance risks in non-life insurance business), os principais riscos ESG cujo as seguradoras estão expostas nos produtos ligados à Vida e Saúde e nos produtos não ligados à Vida. O escopo a ser considerado como de Non Life será o equivalente aos serviços de Properties and Casualties, não contemplando previdência nem capitalização.  Para a definição das listas de riscos a serem avaliadas, foram utilizados dois critérios:   1)  Criticidade apontada pelo artigo, 2)  Relevância para o contexto brasileiro.   Os guias avaliaram a criticidade dos riscos a partir de sua relevância para os riscos de subscrição. Para os serviços de Vida e Saúde, entendeu-se o potencial de gerar aumento na mortalidade, longevidade, morbidade e hospitalização. Para os outros serviços, tidos como de Não Vida, avaliou-se o potencial de subscrição de cada questão em cada tipo de cobertura. As listas finais foram:   Life and Health Riscos físicos – agudos (refere-se para aqueles que são orientados por eventos, incluindo aumento da gravidade de eventos climáticos extremos, como ciclones, furacões ou inundações) Rápida propagação de vírus ou bactérias que causam doenças descontroladas (p.e. doenças transmitidas por vetores Comprometimento da saúde a longo prazo Deficiência mental Deficiência física Abuso de álcool Abuso de drogas Obesidade Fumar (incluindo vape e cigarros eletrônicos)   Non Life Poluição do ar, emissões de GEE e riscos de transição Riscos físicos (p.e. calor, incêndios, precipitação extrema, inundações, vendavais, ciclones tropicais, aumento do nível do mar, estresse hídrico) Desmatamento controverso (p.e. óleo de palma em turfeiras ou florestas frágeis, encostas, desmatamento ilegal , perda de biodiversidade e construção de barragens) Poluição do solo Poluição e consumo em excesso de água Impactos em espécies presentes na Lista vermelha de espécies ameaçadas da IUCN Poluição plástica Trabalho infantil Trabalho forçado Violação de direitos trabalhistas (p.e. discriminação, acordos coletivos) A partir dessas duas listas, analisou-se as práticas reportadas das 3 seguradoras, BB, Caixa e Porto. A finalidade foi entender a aderência das práticas e ações das empresas frente aos

Futuro do relato ESG: mais integração em normas e diretrizes

A caminhada de organizações para aprimorar seus processos de comunicação de desempenho ganhou alguns aliados nos últimos anos. Duas décadas antes da onda ESG (sigla em inglês para meio ambiente, social e governança), hoje consolidada no mercado financeiro, a publicação das diretrizes da Global Reporting Initiative (GRI) trouxe fôlego ao que especialistas falavam ao empresariado: é preciso prestar contas sobre temas de sustentabilidade, com método, frequência e objetividade. Faltava, porém, responder aos anseios de quem sempre tem pressa: o stakeholder financeiro. Explicar como um negócio cria, conserva e perpetua valor, sob influência de fatores financeiros e não financeiros analisados de forma conjunta. Podemos identificar, na linha do tempo do relato corporativo, esse problema em organizações de diferentes portes e setores. Quando o assunto são impactos socioambientais gerados pelo negócio que o afetam em alguma medida, até onde falar ao mercado? O que é importante no ESG para quem analisa lucro, Ebitda e alavancagem? Responder a essas dúvidas requer autoanálise, modulação de expectativas e adequação a pressões externas. Implica ir além de uma só norma, sair da bolha e chegar a quem financia os negócios; eis a deixa para o movimento do Relato Integrado – ou <IR> –, que despontou como solução para melhorar o diálogo entre empresas e mercado em um mundo marcado pela superabundância de informação. DO GRI ÀS MÚLTIPLAS DIRETRIZES As Normas GRI foram importantes para conferir foco e equilíbrio aos processos de relato, mas não resolveram tudo. Leitores, afinal, têm expectativas diferentes para relatórios, e a visão de impacto da entidade holandesa não tinha a intenção de atendê-las individualmente. Surgiram, dos anos 2000 para cá, diversos instrumentos, frameworks, normas e diretrizes, além de índices de bolsa, compromissos setoriais e discussões regulatórias nos mercados mais maduros. Some-se a isso iniciativas como a Agenda 2030 e o Pacto Global das Nações Unidas… uma grande caixa de ferramentas, que mais confunde do que ajuda as organizações iniciantes e gera excesso de dados e informação. No meio dessa selva metodológica, o Relato Integrado – hoje defendido globalmente pela IFRS Foundation – repete um movimento semelhante ao puxado pela GRI na virada do milênio: o de dar instruções claras. Delineia princípios de construção, elementos de conteúdo e conceitos para tornar relatórios mais palatáveis aos stakeholders financeiros (acionista, investidor, fundos, bancos). Propõe uma abordagem mais concisa e integrada dos projetos, investimentos e indicadores ESG, sempre conectados à estratégia e aos resultados financeiros. Define capitais e como precisam ser detalhados em termos de acesso, uso e conversão em impactos, produtos e serviços. Explica com clareza como representar o modelo de negócio e dá pistas sobre formas de alçar o pensamento integrado à cultura organizacional. Em 2021, publicamos no grupo report o estudo “Os caminhos do relato ESG: Um panorama sobre os frameworks e standards mais utilizados”. Trata-se de uma análise de como as organizações brasileiras adotam referências e metodologias para publicar seus relatórios (anuais, de sustentabilidade, integrados etc.). Ali, identificamos que o <IR> ganha força em bom ritmo no Brasil. Em um universo de mais de 100 relatos que têm o ano-base 2020, “Relato Integrado” era o terceiro nome mais comum. Além disso, metade das publicações corporativas do ano citam a Estrutura Internacional de Relato Integrado como base metodológica de sua construção – normalmente, junto das Normas GRI. Mais de 80% seguem a abordagem baseada nos capitais, um importante requisito para quem mergulha no <IR>. FUNÇÃO DE <IR> E O FUTURO DO RELATO Ano a ano, nossa “temporada de relatórios” no grupo report tem sido marcada por empresas que querem aprofundar suas práticas em Relato Integrado. Muitas são puxadas por acionistas, concorrentes ou por recomendações como a Resolução 14/2020 da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), que estipula normas para publicação de relatórios nesses moldes por companhias abertas no País. Cientes dessa transformação, nos tornamos a primeira consultoria a oferecer turmas de um Programa <IR> certificado pela IFRS Foundation no Brasil. E advogamos pela ampla adesão ao <IR> em nossa base de clientes e parceiros, integrando fóruns, comissões e grupos de trabalho. O <IR>, sabemos, não é o ponto de chegada. Como a própria IFRS Foundation defende, ele deverá se acomodar como base conceitual para construção de relatos, aliando-se a normas e frameworks cada vez mais consistentes (e mandatórios). Atualmente, acompanhamos a iminência de lançamento das normas de divulgação de sustentabilidade do International Sustainability Standards Board (ISSB), intituladas IFRS S1 e S2. São os pares naturais das normas financeiras IFRS, hoje adotadas por praticamente toda grande empresa no planeta. Submetidos a consultas públicas no ano passado, eles propõem um recorte claro de conteúdos necessários para reportar temas de sustentabilidade com pegada de negócio: na IFRS S1, por exemplo, os tópicos de governança, estratégia, risco e indicadores/métricas se somam a informações requeridas sobre perfil, estrutura e ativos das organizações, em sintonia com frameworks anteriores. Já a IFRS S2 propõe diretrizes para relato climático – um dos temas emergentes e mais críticos para empresas de diferentes setores no campo ESG, sob pressão direta de investidores, academia e mercado. As Normas GRI, cada vez mais modulares, ganharam uma nova versão em 2021 e agora impõem grande desafio mesmo às organizações mais experientes, em bom diálogo com o ISSB e o <IR>. E ainda devemos mencionar os Padrões de Relatórios de Sustentabilidade (ESRS), as diretrizes de dupla materialidade e o Sustainable Finance Disclosure, da União Europeia, cujo impacto e influência para além do velho continente serão testados nos próximos anos. Nesse vai e vem de siglas e metodologias, uma coisa é certa: orientações claras são aquilo que empresas mais querem ter em mãos. É uma das virtudes do Relato Integrado, que, além de direcionar a construção de relatórios, serve para sensibilizar quanto ao pensamento integrado – a chave para a perenidade e solidez de negócios desde que o mundo é mundo. O futuro do relato já é presente, e o <IR> parece ser o ponto de convergência e conexão mais plausível com normas, índices e instrumentos de mercado. Cabe às empresas avaliar o conhecimento disponível e, assim, transformar o imperativo da transparência ESG em uma prática de comunicação tão corriqueira quanto divulgar seu

Panorama da agenda de sustentabilidade para as principais empresas de frigoríficos brasileiras

FACTSHEET Agricultura e mudança do uso de terra foram responsáveis por 64,9% das emissões de GEE do Brasil em 2021. Essas emissões são associadas às operações das empresas analisadas, especialmente no bioma amazônico. Temas ASG no setor que recebem maior atenção são mudanças climáticas, desmatamento, gestão de água e efluentes, saúde e segurança. Para os investidores, desmatamento na cadeia sobressai como a questão mais relevante, estando correlacionada às emissões de GEE no escopo 3. Bem-estar animal é uma preocupação crescente, e as empresas estão desenvolvendo programas e métricas. A Marfrig é a única empresa entre as três que não divulgou um compromisso público de ser Net Zero, embora seja a única que tenha metas aprovadas pelo SBTi. As empresas relatam sua exposição a riscos e oportunidades relacionados às mudanças climáticas, seguindo as recomendações do TCFD. Riscos relacionados às mudanças climáticas e desmatamento são relevantes devido aos serviços ecossistêmicos que salvaguardam as operações. Escrutínio crescente sobre a pecuária pode resultar em riscos legais e regulatórios de alta severidade. 1 Sigla utilizada para se referir a gases de efeito estufa2 Ter um compromisso de ser net zero significa que uma organização está comprometida em reduzir suas emissões de gases de efeito estufa (GEE) ao mínimo possível e, em seguida, compensar as emissões remanescentes através de ações que retirem carbono da atmosfera, resultando em zero emissões líquidas de GEE.3 Sigla para Science Based Targets initiative, iniciativa colaborativa entre CDP (Carbon Disclosure Project), o Pacto Global das Nações Unidas (UM Global Compact), o World Resources Institute (WRI) e o World Wildlife Fund (WWF). O objetivo da SBTi é ajudar empresas a estabelecer metas baseadas na ciência para reduzir suas emissões de gases de efeito estufa (GEE)4 TCFD (Task Force on Climate-related Financial Disclosures) é uma iniciativa internacional criada em 2017 pelo Financial Stability Board (FSB, na sigla em inglês) para desenvolver um conjunto de recomendações para guiar o relato de organizações sobre gestão de riscos e oportunidades relacionadas ás mudanças climáticas. 1 – Introdução Segundo a Embrapa (2021), o Brasil possui o maior rebanho bovino do mundo, sendo, também, o maior exportador desse tipo de carne. Nesse contexto, três empresas brasileiras de frigoríficos se destacam: JBS, Marfrig e Minerva Foods. Elas são as 3 maiores do setor em nível nacional e figuram entre as maiores do mundo. O mundo olha com especial atenção para a operação dessas empresas devido à localização geográfica de seus rebanhos, muitas vezes inseridos no bioma amazônico, sendo associados ao desmatamento da mata nativa (G1, 2021). Segundo dados do SEEG – Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa (2022), 64,9% das emissões de gases de efeito estufa brasileira em 2021 se deram pela Agropecuária e por Mudança de Uso de Terra e Florestas, sendo questões associadas às operações destas empresas. Portanto, os temas ESG que estas empresas acabam sendo mais demandadas por ações, metas e transparência dizem respeito às mudanças climáticas e ao desmatamento, bem como suas consequências para a biodiversidade e integridade dos ecossistemas. Ambas as questões são complexas pois estão presentes majoritariamente ao longo da cadeia de suprimentos das companhias, que podem chegar a quatro níveis de fornecedores indiretos, anteriores aos diretos, que são os que vendem o animal para o abate. Além dessas questões, gestão de água e efluentes também é um tema ambiental relevante, sobre o qual as companhias possuem maior gerenciabilidade, já que o maior uso de água ocorre nas plantas. Já na dimensão social, saúde e segurança ocupacional se destaca devido à natureza do trabalho. Bem-estar animal é um tema que tem ganhado cada vez mais relevância e as empresas têm sido cada vez mais cobradas sobre isso. Abaixo vemos como cada uma das três empresas têm atuado frente a essas questões. COMPRIMISSOS ASSUMIDOS I) JBS  5 entende-se como fornecedor indireto aquele responsável por etapas anteriores à venda do animal para o abate, como gestação, engorda etc.. A JBS possui compromisso de ser Net Zero até 2040 e alega que vai investir US$ 1 bilhão até 2030 em projetos para descarbonizar suas operações. A companhia possui meta intermediária de redução de 30% das emissões de GEE dos escopos 1 e 2 até 2030 (ano-base 2019), que foram vinculadas à captação de recursos no mercado de capitais. No entanto, os maiores desafios se encontram no escopo 3, que representa cerca de 90% das emissões da companhia, segundo estimativas feitas pela própria JBS. Para reduzir emissões na sua cadeia, a JBS atua em três pilares. 1) Monitoramento dos fornecedores: com utilização de monitoramento geoespacial para mais de 860 mil km² de área e avaliação de mais de 80 mil potenciais fazendas fornecedoras; utilização de blockchain na operacionalização da cadeia de bovinos, onde a companhia pretende ter 100% dos fornecedores diretos integrados ao programa até 2026 e ter sua cadeia de fornecimento livre de desmatamento ilegal até 2025, contando os fornecedores diretos e indiretos. 2) Gestão e suporte aos pecuaristas: bases em regiões-chave para dar suporte gratuito aos pecuaristas visando à regularização ambiental de suas propriedades; organização de grupo de pecuaristas para troca de referências; promoção do desenvolvimento da pecuária sustentável na região do Médio Araguaia, aliando educação e tecnologia para apontar novas formas de produção. 3) Manejo do gado e do solo: parcerias com empresas e centros de pesquisa para fomentar e expandir o uso de aditivos alimentares de modo a buscar a redução das emissões de metano derivadas da fermentação entérica bovina. No que tange à gestão de água e efluentes, a JBS possui meta de reduzir em 15% a intensidade no uso da água até 2030 (ano-base 2019). Segundo a companhia, 73% das fábricas apresentam risco hídrico baixo ou médio-baixo e apenas 2% possuem risco alto. Já na dimensão social, sobre o tema segurança ocupacional, a companhia tem a meta de reduzir em 30%a taxa global de acidentes até 2030 (baseline média 2019/20) -até o final de 2021 já havia atingido 11% de redução. Por fim, em relação ao tema bem-estar animal, a JBS possui como compromisso desenvolver um Scorecard global e estabelecer metas até 2030.

A crescente adesão às práticas ESG: Desafios regulatórios para as empresas

(Carta Circular nº 666, da Susep e Resolução nº 265, do Banco Central) Nos últimos anos, temos testemunhado um aumento significativo da adesão de empresas de diversos setores da economia aos princípios ESG. Essa adesão pode ocorrer de forma voluntária, impulsionada pela liderança consciente desses princípios, ou pela incorporação dos mesmos em suas estratégias de negócios como forma de gerar valor e mitigar riscos. Além disso, o Estado, por meio de órgãos reguladores, ou organizações sociais privadas, dentro de sua esfera de competência, também podem induzir a adesão compulsória a esses princípios às atividades de seus regulados ou autorregulados. Um exemplo disso é a regulamentação emitida pela Susep – Superintendência de Seguros Privados (Carta Circular nº 666) e pelo Banco Central (Resolução nº 265), que abordam políticas de sustentabilidade e gerenciamento de riscos sociais, ambientais e climáticos para as suas entidades reguladas. Embora publicadas em 2022, essas regulamentações estabelecem prazos escalonados para implementação nos próximos meses e anos. Na prática, essas normas já estão demandando e continuarão a demandar um esforço significativo de adaptação por parte das entidades reguladas, mesmo aquelas que já tenham, voluntariamente, adotado anteriormente os princípios de sustentabilidade em suas estratégias de negócios e operações. A seguir, apresentamos de forma resumida e sistematizada os principais desafios estabelecidos por essas regulamentações referentes aos aspectos ESG: Carta Circular nº 666, da Susep, de 27/6/2022 Público-alvo: Seguradoras, Entidades Abertas de Previdência Complementar (EAPCs), Sociedades de Capitalização e Resseguradores locais. Escopo: Dispõe sobre o gerenciamento de riscos e a política de sustentabilidade Prazos de adaptação: Escalonados entre o final de 2022 e junho de 2025, conforme requisito. I – Gestão dos Riscos de Sustentabilidade (Capítulo III) Prazos de adaptação: até 31/12/23, para as supervisionadas enquadradas no segmento S1; b) até 28/2/24, para o segmento S2; e até 30/4/24, para os segmentos S3 ou S4.  Até 30/6/24, para registrar informações relevantes para a gestão dos riscos de sustentabilidade (art. 4º, inciso III, alínea “b)” para o os segmentos S1 e S2. A supervisionada deverá elaborar estudo de materialidade a fim de identificar, avaliar e classificar, por níveis de materialidade, os riscos de sustentabilidade a que se encontra exposta (Art. 3º, §1º). O estudo de materialidade deverá ser reavaliado no mínimo a cada três anos, ou sempre que sempre que houver alteração significativa do perfil de risco da supervisionada e divulgado ao público externo (Art. 3º, §3º). A supervisionada deve adotar metodologias, processos, procedimentos e controles específicos para identificar, avaliar, classificar, mensurar, tratar, monitorar e reportar, de forma tempestiva, os riscos de sustentabilidade a que se encontra exposta; estabelecendo limites para concentração de riscos e/ou restrições para a realização de negócios que considerem a exposição de setores econômicos, regiões geográficas, produtos ou serviços a riscos de sustentabilidade (Art. 4º). Os riscos de sustentabilidade não constituem necessariamente novas categorias de risco no contexto da regulamentação, devendo, sempre que possível, ser considerados nas categorias obrigatórias de risco de subscrição, de crédito, de mercado, operacional e de liquidez, em função de seus efeitos (Art. 4º, §3º). A supervisionada deverá implementar critérios e procedimentos para precificação e subscrição de riscos, que levem em conta, no mínimo o histórico e comprometimento do cliente na gestão de riscos de sustentabilidade; a capacidade e a disposição do cliente em mitigar os riscos de sustentabilidade associados à transação. Esses critérios deverão ser integrados à gestão do risco de subscrição e constar expressamente da política de subscrição e/ou dos normativos internos a ela relacionados (Art. 5º). A supervisionada deverá implementar critérios e procedimentos para a seleção de investimentos que levem em conta, no mínimo, riscos advindos de exposições dos ativos e/ou de seus emissores a riscos de sustentabilidade; não adoção de boas práticas de governança corporativa por parte dos emissores dos ativos; e eventuais restrições ou limites aplicáveis.  Esses procedimentos deverão ser integrados à gestão dos riscos de mercado, de crédito e de liquidez; e constar expressamente da política de investimentos e/ou dos normativos internos a ela relacionados, juntamente com a indicação da parcela da carteira de investimentos à qual serão aplicados (Art. 6º). A supervisionada deverá implementar critérios e procedimentos para seleção de fornecedores e prestadores de serviços que levem em consideração suas exposições aos riscos de sustentabilidade. Esses critérios deverão ser integrados à gestão do risco operacional; e constar expressamente da política de gestão de riscos e/ou dos normativos internos a ela relacionados (Art. 7º). II – Política de Sustentabilidade (Capítulo IV) Prazo de adaptação: até 31/12/23, para as supervisionadas enquadradas no segmento S1; b) até 28/2/24, para o segmento S2; e até 30/4/24, para os segmentos S3 ou S4.   A supervisionada deverá possuir uma política de sustentabilidade que estabeleça princípios e diretrizes destinados a garantir que aspectos de sustentabilidade, incluindo riscos e oportunidades, sejam considerados na condução de seus negócios e no seu relacionamento com partes interessadas (Art. 8º). A política de sustentabilidade deverá ser compatível com o porte da supervisionada, alinhada aos seus objetivos estratégicos da supervisionada e ao seu plano de negócios; elaborada, a critério da supervisionada, com a participação de partes interessadas; registrada formalmente por escrito; aprovada pelo órgão de administração máximo da supervisionada; divulgada aos seus colaboradores e ao público externo; e reavaliada no mínimo a cada três anos ou sempre que a supervisionada julgar necessário (Art. 9º). A supervisionada deverá implementar, com base em sua política de sustentabilidade, ações relacionadas, pelo menos ao desenvolvimento e à oferta de produtos ou serviços; ou ao desempenho de suas atividades e operações (Art. 11º). Os órgãos de administração da supervisionada deverão promover a disseminação da política de sustentabilidade junto a seus colaboradores e demais partes interessadas, assegurando o alinhamento aos seus objetivos estratégicos e ao seu plano de negócios, bem como a compatibilidade e a integração entre a política de sustentabilidade e as demais políticas da supervisionada, em especial a política de gestão de riscos e suas políticas complementares; além da a aderência dos negócios e operações da supervisionada à política de sustentabilidade (Art. 13º). Compete exclusivamente aos diretores da supervisionada conduzir as atividades sob sua

COP 28: Desafios e avanços globais

Exploramos os acontecimentos da COP 28 e, entre avanços, desafios e metas globais, destacamos nuances e contradições nas decisões tomadas. Além disso, delineamos as oportunidades que se abrem para o Brasil a partir de agora. COP DO PETRÓLEO? O texto oficial da COP 28 que menciona a redução no consumo de combustíveis fósseis foi aprovado 24 horas após o término programado do evento. Embora tenha utilizado a expressão “transitioning away from fossil fuels” em vez de “phasing out fossil fuels”, o que suaviza o impacto, é uma conquista significativa. Este é o primeiro texto oficial de uma COP a abordar a redução de combustíveis fósseis, especialmente notável considerando que a COP 28 ocorreu nos Emirados Árabes. Outro aspecto relevante destaca a “necessidade de reduções profundas, rápidas e sustentadas nas emissões de gases de efeito estufa, em conformidade com as trajetórias de 1,5°C”. A ministra Marina Silva celebrou a menção explícita ao valor de 1,5ºC, especialmente porque, em eventos anteriores, já se vislumbrava a intenção de alguns países em abandonar a meta referente à manutenção da temperatura média global.  Um fato que chamou a atenção dos mais atentos ao evento foi a criação de um pavilhão dedicado à OPEP . O objetivo era permitir a participação da indústria petrolífera nas negociações e pressionar seus membros a bloquear qualquer esforço para incluir a eliminação dos combustíveis fósseis no texto da COP. Somado a isso, o grupo realizou eventos paralelos destacando o “lado positivo” da indústria petroleira. Para finalizar, também foi anunciado que o Azerbaijão sediará a próxima COP. A escolha de mais um país cuja economia é predominantemente baseada na produção de combustíveis fósseis levanta  preocupações devido à dependência econômica do petróleo e a casos de violações dos direitos humanos por parte do governo. ENERGIA RENOVÁVEL O texto final da COP 28 reconhece a importância do setor privado e destaca a necessidade de fortalecer políticas, incentivos e regulamentações para atrair investimentos significativos na transição global para baixas emissões de gases de efeito estufa (GEE). Enfatiza o papel de diversos atores financeiros na gestão de riscos relacionados ao clima e convoca os países a contribuírem globalmente, incluindo metas como triplicar a capacidade de energia renovável e reduzir o uso de carvão, visando atingir zero emissões líquidas até 2050. Em relação à meta de capacidade energética renovável, a intenção é triplicar para pelo menos 11 terawatts (TW) globalmente até 2030 e duplicar a eficiência energética de 2% para 4% até o mesmo ano. Empresas e setores econômicos devem estar atentos às mudanças nos financiamentos e incentivos estatais que irão impulsionar essa transição energética. SEGURANÇA ALIMENTAR, SAÚDE E EMISSÕES A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) lançou um roteiro global para acabar com a fome e todas as formas de subnutrição no planeta sem exceder o limite de 1,5°C estabelecido pelo Acordo de Paris. O documento descreve uma estratégia abrangente para os próximos três anos e lista um portfólio diversificado de soluções, entre elas, a redução do consumo excessivo de produtos de origem animal nos países ricos, o desperdício alimentar e o uso excessivo de fertilizantes. FUNDO DE PERDAS E DANOS: AVANÇOS NO FINANCIAMENTO CLIMÁTICO O Fundo de Perdas e Danos foi aprovado, firmando um marco importante da COP 28. Com a supervisão inicial do Banco Mundial, espera-se um aporte de até 100 bilhões de dólares, com países desenvolvidos como o Reino Unido, EUA, Japão, Alemanha e Emirados Árabes contribuindo voluntariamente. Esse pode ser um dos principais resultados desta convenção, porém, ainda será preciso definir especificidades sobre qual será a burocracia envolvida nesse repasse. Houve avanços em relação ao novo objetivo quantificado coletivo (New Collective Quantified Goal – NCQG), fundamentado nos 100 bilhões de dólares prometidos pelas nações desenvolvidas para financiamento climático em países em desenvolvimento. Teremos mais detalhes sobre sua implementação no próximo ano. TRANSIÇÃO JUSTA E A URGÊNCIA GLOBAL DE COMBATER AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS A UNEP FI (Iniciativa Financeira do Programa Ambiental das Nações Unidas) e a Organização Internacional do Trabalho (OIT) lançaram a “Ferramenta de Financiamento para uma Transição Justa”, o primeiro guia para o setor financeiro promover uma transição justa para economias de baixo carbono, eficientes em termos de recursos e resilientes.  Vale lembrar que a transição energética justa, com países desenvolvidos proporcionando apoio financeiro, tecnológico e capacitação aos países em desenvolvimento, é o único caminho para uma transformação socialmente igualitária. Por fim, a Organização Meteorológica Mundial confirma que 2023 será o ano mais quente já registrado, reforçando a urgência de ações globais efetivas para combater as mudanças climáticas.  META GLOBAL DE ADAPTAÇÃO (GGA) O texto final da COP destaca o ciclo contínuo de adaptação, incluindo avaliação de riscos, planejamento, implementação e monitoramento, com foco em apoiar países em desenvolvimento. O foco é alcançar a Meta Global de Adaptação até 2025, com o objetivo de fortalecer a capacidade de adaptação global e reduzir vulnerabilidades, incluindo a elaboração de planos nacionais de adaptação. O documento ressalta a importância de soluções baseadas na natureza e medidas de adaptação, com a expectativa de que até 2030 os países avancem na implementação de sistemas de monitoramento. No entanto, são necessários esclarecimentos sobre expectativas e metas de financiamento na COP 29. MERCADO DE CARBONO Os mercados de carbono globais, em negociação desde 2015, não alcançaram um acordo. O Artigo 6 do Acordo de Paris, referente aos Artigos 6.2 e 6.4, será reexaminado tecnicamente durante o ano e novamente apresentado à COP. Este resultado não foi o esperado para aqueles que buscam estabelecer mercados de carbono sólidos. No entanto, iniciativas em andamento continuam a preparar o terreno para a implementação do Artigo 6 no futuro. E QUANTO À PARTICIPAÇÃO DO BRASIL? O Brasil surpreendeu ao confirmar a adesão à OPEP+, contrariando discursos anteriores sobre a necessidade de redução da utilização de combustíveis fósseis e a missão 1,5ºC. A decisão é controversa, especialmente diante dos conflitos internos no governo brasileiro sobre a extração de petróleo na foz do Amazonas. Para completar, no dia 13 de dezembro, ocorreu o 4º ciclo da Oferta

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